Nesta mini-reportagem da Agenda Cultural LX, é nos dada a conhecer a história de um MC, tal como o writer Nomen. Sagas foi então uma alcunha de bairro sem grande história que se tornou no nome de hip-hop de Tomé Landim, que com 33 anos de idade é músico e escritor de letras de rap. Na gíria do hip-hop, MC (mestre de cerimónias) é quem escreve as rimas. Foi nos anos 80 que começou a ouvir as primeiras canções rap em cassetes trazidas por um amigo da África do Sul. Ouvia Big Daddy Kane e Chuck D. No bairro das Marianas, em Carcavelos, onde cresceu, formou
uma das primeiras crews de hip-hop, que também girava em torno do breakdance e das batalhas dançadas entre crews de diferentes zonas do bairro. O grupo juntava-se à volta do Faraó Breaken, uma loja de roupa que patrocinava as batalhas de breakdance. Aos 14 anos de idade escreveu as primeiras letras: «Na altura era muito mais radical, eram letras com muito mais revolta e que diziam o que tinha de ser dito sem papas na língua». Sagas juntou-se rapidamente às primeiras bandas de hip-hop português seguindo de perto o trabalho dos Black Company, dos Da Weasel e em 1995 participa na colectânea Rapública, um marco do hip-hop nacional. Entre os grupos com quem começou a cantar destacam-se os Zona Dread e o Mundo Complexo. Com D-Mars (ex Zonadread) e Nellassassin arrancam os primeiros trabalhos dos Micro. Primeiro ficaram conhecidos em festas e concertos underground, depois, com a Expo 98, chegou o reconhecimento do grande público. Os três editam o primeiro álbum Micro-estática em edição de autor, vendido em mão e numa das primeiras lojas de hip-jop português, a King Size, uma loja de roupa que vendia discos. O álbum esgota em pouco tempo e o grupo começa uma estrutura semi-organizada investindo em material e na produção de um novo álbum: Microlandeses. Casa um dos elementos dos Micro começa a investir em projectos próprios. Sagas edita o primeiro álbum a solo intitulado Rostu Limpu em 2005. Actualmente prepara o lançamento de um novo disco, também a solo, enquanto dá voz ao projecto Noites em Família composto essencialmente por músicos do bairro onde cresceu e que mantêm entre si relações próximas. Sagas continua sempre fiel ao espírito com que abraçou o hip-hop – interventivo, agressivo – mas moderou alguns aspectos das suas letras iniciais: «De uma maneira geral as pessoas desconhecem o poder que o hip-hop tem sobre os jovens. Actualmente a nossa mensagem é quase sempre positiva; não se valoriza o material, a violência e o sexo como fazem alguns mc americanos. A nossa onda é outra, aliás quem envereda por aquele caminho é ostracizado, mas deixamos de falar das coisas (do racismo, da opressão, da falta de liberdade, etc.). Eu tenho três filhos e quero que eles cresçam com a música de uma forma positiva», conta MC Sagas. Hoje vive da música, para trás
ficou o emprego como vendedor. Actualmente é sócio de uma editora independente que vai arrancar em breve com as primeiras produções. Vive do que escreve e do que canta. As suas letras são bastante elucidativas do seu projecto de vida: «Apenas quero viver / ter o meu espaço / sentir prazer / naquilo que faço». No nosso blogue estão disponíveis ao público algumas músicas e vídeos de MC Sagas.
Fotografia 1 - Álbum Rostu Limpu
Rita Silva